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SAÚDE

Entenda a eficácia das vacinas contra Covid oferecidas no Brasil e por que elas não podem ser comparadas

Por Ana BottalloEverton Lopes Batista
Publicado em 31-05-2021 às 01:33hrs
Números são calculados em ensaios clínicos com metodologias e tempos distintos
Entenda a eficácia das vacinas contra Covid oferecidas no Brasil e por que elas não podem ser comparadas

 

Já no início da pandemia de Covid-19, o mundo se mobilizou para produzir a aguardada vacina que colocaria um fim aos efeitos da doença pelo mundo. No final de 2020, começamos a ver as vacinas finalmente recebendo a aprovação por agências regulatórias internacionais e sendo aplicadas na população. Em 2021, a vacinação tem avançado em diversos países, incluindo o Brasil, como a única alternativa para acabar a pandemia.

São três as vacinas disponíveis no Brasil: Coronavac (parceria entre Sinovac e o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista), Oxford/AstraZeneca (produzida no Brasil pela Fiocruz e adquirida pelo governo federal) e, mais recentemente, a vacina Pfizer/BioNTech (também adquirida pelo governo federal).

As três têm taxas de eficácia diferentes: a da Coronavac é de 50,38%, a da AstraZeneca, 70%, e a da Pfizer/BioNTech, 95%.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), inclusive, ironizou o número da Coronavac como provocação ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Os dados sobre eficácia medem quão boa é uma vacina para proteger contra uma infecção ou doença. Mas as taxas de eficácia das vacinas são comparáveis? E, mais importante ainda, essa é, de fato, a melhor maneira de medir a efetividade de um imunizante?

Segundo especialistas, as taxas de eficácia, divulgadas pelas desenvolvedoras das vacinas, não podem ser comparadas diretamente porque cada estudo tem sua metodologia própria e, principalmente, um período de desenvolvimento do ensaio clínico distinto.​

E uma mesma vacina pode obter dados diferentes se forem feitos estudos com metodologias distintas.

A vacina criada pela farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford teve a eficácia geral apresentada (70%) baseada em resultados de quatro estudos diferentes feitos no Reino Unido, Brasil e África do Sul. Os sintomas considerados nos estudos do Reino Unido e Brasil eram os mesmos (não incluíam dores no corpo, cabeça e garganta), mas o estudo da África do Sul incluiu outras manifestações na lista.

"Por que cada estudo fez um cálculo diferente? Embora isso não pareça fazer sentido, estamos vivendo um momento histórico em que nunca houve tantas vacinas diferentes ao mesmo tempo para uma mesma doença. Não existe padronização mundial para estudos de fase 3 —embora a Food and Drug Administration [FDA, agência reguladora dos Estados Unidos] recomende isso. A SBI endossa fortemente essa recomendação", disse a Sociedade Brasileira de Infectologia em nota.

Para Daniel Tausk, matemático e professor no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), a eficácia de duas vacinas diferentes só pode ser comparada se fosse realizado um único estudo com as substâncias.

Assim, um grupo de voluntários seria dividido em dois e cada grupo receberia uma imunização diferente, sem que participantes e pesquisadores saibam quem recebeu qual vacina. Os dois grupos deveriam compor populações comparáveis, com idades semelhantes e uma mesma proporção de homens e mulheres, por exemplo. As definições de caso da doença deveriam ser as mesmas para todos. Só assim seria possível fazer uma comparação mais correta, diz o matemático.

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