Para tanto, nós, criadores do Pantanal mato-grossense, trabalhamos sempre frente a muitas dificuldades. No ano passado, além da pandemia da Covid-19, fomos “castigados” com a pior seca registrada quiçá nos últimos 100 anos. Paralelamente, brigamos contra o fogo devastador que destruiu propriedade e matou nosso rebanho.
Quem não conhece o trabalho do produtor pantaneiro, do homem do campo, que depende da natureza para sobreviver, não entende como é ser julgado como vilão de uma história onde na prática somos verdadeiros heróis e guardiões desse imenso e maravilhoso patrimônio natural, que é o Pantanal.
O cavalo pantaneiro é excelente para o trabalho com o gado em qualquer região do país. É tão dinâmico, que no Pantanal ele se ajustou aos picos das cheias e secas. Descendente dos equinos trazidos da Península Ibérica para o Brasil, na época da colonização, a raça pantaneira passou por séculos de adaptação em um ambiente dinâmico e complexo, com temperaturas extremas.
Tornou-se uma raça única, desde 1972, quando foi criada a ABCCP, em Poconé, que possui o papel fundamental no fomento, seleção e melhoramento da raça. O valor genético adquirido no longo processo de seleção natural conferiu ao cavalo Pantaneiro características excepcionais de adaptação, rusticidade e funcionalidade.
É importante destacar que são animais capazes de resistir a doenças e também expressam bem-estar mesmo estando em locais inóspitos, como no período de estiagem, restrição hídrica e/ou queimadas. São tão resistentes que conseguem atravessar trechos de vegetação mais densa, seus cascos resistem a longas jornadas enquanto se alimentam, dentro de ambientes aquáticos por longos períodos.
Outro detalhe curioso, é a convivência em harmonia com a natureza, o cavalo pantaneiro consegue se aproximar da fauna silvestre sem causar impacto ou susto. Todas essas características tornam o cavalo pantaneiro generalista e multifuncional, apto a viver e trabalhar nos mais variados ambientes e sistemas de produção.
Devido à sua versatilidade e características funcionais, o cavalo pantaneiro tem atraído compradores de diversas regiões do Brasil e de outros países, principalmente para ser utilizado na lida do gado. Mas também para atividades como equoterapia, cavalgadas e provas esportivas. A agilidade dele tem estimulado a sua participação em provas de laço técnico, “team penning” (apartação de determinados bois do rebanho) e “ranching sorting” (seleção de gado e direcionamento para cercados/currais).
Desde o ano passado, temos trabalhado com leilões on-line, o que para a nossa surpresa, vem sendo um sucesso. Em três eventos, alcançamos R$ 3 milhões em vendas de animais, como uma média surpreendente: os garanhões comercializados a mais R$ 29 mil, os machos castrados R$ 10,5 mil e as fêmeas montadas R$ 14,3 mil. Hoje, o cavalo pantaneiro já se destaca no mercado rural brasileiro.
Quantos somos? Como está o nosso rebanho? Atualmente, há cerca de 5 mil cavalos pantaneiros puros registrados na ABCCP e mais de 130 criadores localizados em 21 sub-regiões. O número total estimado de equinos no Pantanal é 100 mil. Buscamos o sucesso na manutenção e aperfeiçoamento da raça, por meio de parcerias com a Embrapa e as associações regionais.
O esforço é contínuo para apoiar os criadores no trabalho de melhoria genética da raça, com destaque para novas tecnologias, como manejo nutricional, doma racional e fertilização. Se por um lado agregamos novos conhecimentos advinda da ciência, por outro, como pantaneiro, nós recebemos ensinamos dos nossos antepassados.
Essa paixão pela fazenda, pelo Pantanal, passa de pai para filho, e vem sendo fundamental para a sobrevivência não só do cavalo pantaneiro, como da natureza. Nosso trabalho na associação visa fortalecer esse vínculo para preservar o Pantanal na sua mais abundante e rica biodiversidade, da qual nós, também fazemos parte.
Leandro Pio, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Pantaneiro (ABCCP) e criador em Poconé (MT)
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