Mulheres passam 21 horas por semana em afazeres domésticos e cuidados com as pessoas da casa, enquanto homens gastam cerca de 11 horas. Elas também são 4,3% mais instruídas em relação aos homens, mas isso não impede a evidente desigualdade salarial. São dados de 2021 apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que demonstram a intensa jornada das mulheres no Brasil para cuidar dos lares e para se qualificarem.
O debate sobre o protagonismo cada vez mais evidente das mulheres no mercado profissional tem sido encorpado na Câmara Brasileira das Mulheres Empreendedoras do Comércio, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), que realizou reunião na quarta-feira (03/07) na sede em Brasília (DF).
“É importante para nós, mulheres empreendedoras, estarmos presentes nas discussões sobre o setor, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado, em relação às legislações, como também promover ainda mais a atuação do Sesc e do Senac para este público”, afirmou Greici, que é empresária em Tangará da Serra.
Ela reforçou a importância de se pensar em linhas específicas para mulheres empreendedoras, especialmente para as que ainda não estão no mercado de trabalho. “São mães de família que por meio dos nossos braços sociais, especialmente o Senac, podem conseguir qualificação. Este é um momento especial porque as mulheres estão tomando seus espaços e protagonizando uma mudança em todo o cenário”, reforçou a vice-presidente da Câmara mato-grossense.
Na reunião da CBMEC, a empresária Laura Paiva assumiu a coordenação nacional e elencou desafios como o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, barreiras culturais e sociais, capacitação e conhecimento e acesso a recursos financeiros.
“A sociedade está cada vez mais dinâmica, e a gente precisa se atualizar. Sucesso é uma jornada coletiva. E hoje essa câmara tem uma representante de cada estado brasileiro, de cada uma das Federações Estaduais e Nacionais, e assim vamos poder compartilhar experiências, dividir desafios e interagir para ajudar outras mulheres a começar seus negócios, estruturar ou dar continuação para fortalecer seus empreendimentos”, afirmou.
A coordenadora motivou as integrantes da CBMEC a ampliar seus horizontes de conhecimento, com um olhar para ESG e outras frentes de inovação. “Somos grandes e vitoriosas e precisamos buscar que esse caminho seja mais leve e de sucesso, pois acredito que cada uma passou muitas dificuldades de empreender, de liderar, para chegar até aqui. Um eletrocardiograma sobe e desce. Se ele estiver reto, é porque a gente morreu. Assim é a vida, com altos e baixos, sempre em movimento”, enfatizou.
Ações do Sistema
Técnicas dos Departamentos Nacionais do Sesc e do Senac exibiram um vídeo com o trabalho realizado pelas duas Casas para o empoderamento feminino. A gerente de Assistência do Sesc, Cláudia Roseno, reforçou que as mulheres estão entre o público de interesse das ações promovidas pelo Sesc, em todos os cinco programas: Educação, Saúde, Cultura, Lazer e Assistência.
“O Sesc, consciente da desigualdade de gênero que afeta centenas de mulheres, está comprometido em combater os fatores que contribuem para esta situação. Por meio de iniciativas inovadoras e inclusivas, vem fortalecendo e ampliando seu portfólio de projetos que tem como objetivo promover protagonismo, reconhecimento, igualdade de conhecimentos e autonomia financeira de mulheres em situação de vulnerabilidade social”, destacou.
Por todo o Brasil, o Sesc tem mais de 4 milhões de mulheres credenciadas, o que corresponde a 56% do total de inscritos. Destas, 1,8 milhão de mulheres são trabalhadoras do comércio. Ações de valorização social e desenvolvimento comunitário são desenvolvidas por todo o País, com programas como Mulheres que Cuidam de Si, Envolva-se, Rede de Costura, Elas por Elas, Cidadania em Movimento, Comunidades Ativas, entre outros.
A gerente de Programas e Gestão Educacional do Senac, Kelly Teixeira, explicou que 68,3% dos egressos do Senac pelo Brasil são mulheres. “O Senac tem um papel significativo na capacitação e inclusão de mulheres no setor produtivo, no mercado de trabalho”, frisou.
Os eixos tecnológicos de gestão e negócios, ambiente e saúde, informação e comunicação, desenvolvimento educacional e social, produção cultural e design, turismo e hospitalidade e lazer e produção alimentícia são os mais procurados pelas mulheres.
“Nossa ampla oferta de cursos profissionalizantes em diversas áreas, como a área de beleza, tem um viés do empreendedorismo de oportunidade, como uma forma de a mulher lograr, após uma formação, a sua independência financeira”, avaliou.
O Senac cobre a formação das mulheres, dos 14 anos à sua maioridade, com formações iniciais, seguidas de nível técnico e até curso superior. Dentro das perspectivas de itinerários formativos, o Senac trabalha em duas frentes. Com upskilling (qualificação), em que a principal perspectiva é dar as mulheres competências para desenvolver habilidades, atitudes e valores que permitam a formação para esse mundo do trabalho; e depois o reskilling (requalificação).
“A esses aperfeiçoamentos em toda a sua vida, numa perspectiva de requalificação, chamamos de life long learning, ou seja, aprendizado para toda a vida, que é o compromisso da instituição. Não é só inserir as mulheres, é contribuir para que elas permaneçam qualificadas e competitivas no setor, no setor produtivo.”
Por fim, Kelly destacou que o Senac atua de maneira abrangente e inclusiva, oferecendo às mulheres as ferramentas necessárias para conquistar seu espaço no mercado de trabalho e na sociedade, contribuindo para um futuro mais justo e igualitário.
Pauta legislativa
A diretora de Relações Institucionais da CNC, Nara de Deus, trouxe um panorama das matérias em tramitação no Congresso que têm relação direta com a pauta feminina. A assessora de Relações Institucionais Ana Paula Pimenta comentou o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 31/21, que cria a figura da MEI-Mulher Empreendedora, com regras diferenciadas para a microempreendedora individual do sexo feminino.
Atualmente, há 48% dos microempreendedores individuais atuando no ramo de beleza, moda ou alimentação. Na prática, o projeto pede a redução de alíquotas, a promoção de crédito e o fomento do empreendedorismo feminino. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) é favorável à matéria, que está na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher para designação de relatora.
Outro projeto apresentado foi o PL nº 1.098/2023, que trata sobre o apoio ao empreendedorismo feminino, alterando a Lei nº 13.636/18, que institui o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), para determinar prioridade de atendimento a negócios controlados por mulheres e dá outras providências. A matéria está na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e depois deve ir para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.
Ana Paula Pimenta também falou sobre a recente aprovação, no Senado Federal, no dia 2 de julho, do projeto que cria o Selo Cidade Mulher, conferido anualmente para os municípios que se destacarem na adesão às políticas públicas para as mulheres. A proposta segue para apreciação no Plenário do Senado.
Outra pauta informada pela assessora foi a participação da CNC na 1ª edição da Reunião de Mulheres Parlamentares do P20, liderada pelos presidentes dos Parlamentos e dos Congressos do G20. Atualmente, a CNC integra três grupos de trabalho do G20: Economias Justas, Inclusivas e Antirracistas; de Educação e Cultura; e de Direitos das Mulheres e Igualdade de Gênero.
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