Apesar da desaceleração econômica a nível nacional, a economia mato-grossense parece refletir as altas temperaturas de Cuiabá e se mantém aquecida, inclusive acima da média. O que traz esse ganho nos indicadores econômicos é o resultado da agropecuária e, mais recentemente, a combinação da produção agrícola com a expansão da base industrial.
Isso pode ser medido por meio da projeção do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que saltou de 4,1%, em janeiro, para 6,6%, em setembro, de acordo com o boletim mensal do Banco do Brasil. Assim, Mato Grosso dispara na frente de todos os estados quando o assunto é crescimento econômico.
Com os resultados dos últimos meses, o estado vai na contramão do país. A atividade econômica nacional começa a dar sinais de desaceleração conforme esperado pelo Banco Central (BC), que mantém a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, sendo a maior taxa em quase 20 anos.
O BC usa essa ferramenta para trazer a inflação para dentro da meta estipulada pelo governo e, com isso, provoca um esfriamento na atividade econômica, no acesso ao crédito e em investimentos. Portanto, a previsão do PIB do país neste ano foi revisada para baixo, de 2,1% para 2%, de acordo com o relatório de Política Monetária do BC.
🔍O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos num período de tempo. O cálculo leva em conta o produto final para evitar dupla contagem. Se um país produz R$ 100 de trigo, R$ 200 de farinha de trigo e R$ 300 de pão, por exemplo, seu PIB será de R$ 300, porque os valores da farinha e do trigo já estão embutidos no valor do pão. Diante disso, o PIB não reflete a riqueza de um país, mas aponta somente o fluxo de novos bens e serviços finais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O diferencial de Mato Grosso ao se manter na liderança nacional em termos de crescimento econômico, nos últimos anos, tem sido a combinação do agro com a indústria, o que gerou um novo ciclo produtivo.
“O agronegócio foi o motor do primeiro ciclo econômico. Agora, a agroindústria é a frente de expansão, agregando valor, industrializando matérias-primas e gerando empregos qualificados. O setor já emprega mais de 200 mil pessoas direta e indiretamente no estado, com forte absorção de jovens”, destaca a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedec).
A indústria estadual como um todo deve crescer 6,7% em 2025, acima da média nacional, conforme a Sedec. Além do setor de grãos, frigoríficos de carne bovina, aves e suínos estão se expandindo, o que fortalece a industrialização da proteína animal.
Nos últimos dez anos, o PIB industrial do estado triplicou, puxado especialmente pelos segmentos de alimentos (carne bovina e derivados), bebidas e combustíveis renováveis (etanol de milho), de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (FIEMT). Conforme últimos dados, o PIB industrial foi de R$ 37,7 bilhões, o que correspondeu a cerca de 16,3 % do PIB do estado.
“O que ainda falta é superar gargalos históricos: logística mais eficiente e estabilidade tributária. Com a expansão da infraestrutura de transporte e a modernização do ambiente regulatório, o estado pode acelerar ainda mais sua industrialização e reduzir a dependência da exportação de commodities in natura”, segundo a FIEMT.
A agroindústria transforma os produtos do campo. No estado, há abundância de matérias-primas estratégicas. É o caso das usinas de etanol de milho, que se expandiram e impulsionaram o crescimento da produção do grão e das indústrias de biodiesel, que utilizam a soja como base.
Municípios consolidados em agroindústria:
A Sedec explicou ainda que Sorriso, Lucas do Rio Verde, Sapezal e Campo Novo do Parecis contam com tecnologia no campo, sobretudo em soja, milho e algodão.
Municípios que crescem com agroindústria:
🛣️Desafios logísticos
Com uma área equivalente ao território da França e da Alemanha, Mato Grosso possui o maior pacote de obras de infraestrutura do país, de acordo com dados da Sedec. Desde 2019, já foram entregues 6.037 km de asfalto novo e há outros 1.417km em andamento.
Contudo, apenas 14% de todo o território é usado pelo agronegócio, enquanto outros 60% são preservados em terras indígenas, unidades de conservação e áreas protegidas pelos produtores.
A questão logística, contudo, ainda é um desafio a ser superado no estado. Afinal, toda a produção de soja, milho e algodão precisa escoar para os portos até os navios, e as estradas ainda são os meios mais usados para essa tarefa.
Apesar disso, a expectativa é de que o estado se torne um dos maiores hubs logísticos da América Latina, conforme a Sedec, caso os projetos de infraestrutura e ferroviários avancem nos próximos anos.
Ainda assim, a logística pouco acompanha o ritmo da produção agrícola, o que gera um desequilíbrio entre o que é produzido e o que é escoado. Ao g1, a superintendente de inteligência de mercado da Infra — estatal do Ministério dos Transportes — Lilian Campos ressaltou as razões desse desequilíbrio logístico.
"Temos condições de poder atuar e sanar os desafios logísticos que o estado tanto precisa. Nós temos um paradoxo, porque temos uma produção agrícola de classe mundial, e temos infraestrutura que precisa acompanhar essa produção", afirmou.
Como diagnóstico, ela destacou alguns projetos estratégicos que estão encaminhados e, assim que concluídos, poderão conectar o estado além das rodovias. Lilian cita exemplos. "Temos a Fico, a Ferrogrão e as rotas bioceânicas, que estão em curso e vão transformar a matriz no estado."
Para isso, Mato Grosso abre diferentes frentes, tanto por terra, água e ar, para escoar toda a produção agrícola.
A Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) já possui cerca de 39% de execução. A expectativa é que a obra possa ampliar o escoamento da safra na região, e deve ligar Água Boa a Lucas do Rio Verde, dois municípios do agro.
Já as obras da Ferrogrão estão em fase de reestruturação e a constitucionalidade da ferrovia é analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Quando concluída, o traçado deve ligar o Arco Norte e reduzir os custos logísticos, ligando Sinop ao Porto de Miritituba, no Pará, para onde escoa grande parte da produção agrícola.
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