Hasteada pela primeira vez no dia 8 de abril de 1973, a bandeira de Cuiabá é algo recente na história do Município, que nesta segunda-feira (8) completa 305 anos. Escolhida em um concurso idealizado pelo então vereador e procurador aposentado, Evaldo de Barros, em 1972, a origem do símbolo cuiabano é pouco conhecida.
A ideia do projeto para dar origem à bandeira veio de forma natural. Após uma conversa com o jornalista e historiador Rubens de Mendonça, Evaldo de Barros constatou que Cuiabá era a única capital brasileira sem um referencial de signo a ser hasteado em datas comemorativas.
No mesmo dia, ao chegar em casa, ele redigiu um projeto de lei que levaria ao concurso municipal para escolher o símbolo da cidade.
“Foi Rubens de Mendonça que me confirmou que Cuiabá não tinha bandeira. Ele era uma enciclopédia e eu já tinha a proposta, mas não queria correr o risco de acabar criando uma coisa que já existia”, recorda Barros.
No dia seguinte, o então vereador apresentou o texto na Câmara de Cuiabá, que o aprovou por unanimidade.
Arquivo Público
Publicação do edital no jornal "O Estado de Cuiabá"
Entre os critérios obrigatórios para a construção do símbolo estava a apresentação de um formato retangular, cores vibrantes e a presença algo que remetesse à cuiabania.
Nilton de Santana, um candidato para a história
O concurso se popularizou e chegou aos ouvidos do jovem técnico em edificações Nilton Benedito de Santana. Cuiabano de chapa e cruz, ele trabalhava com arquitetos na parte criativa de obras que, até hoje, compõem a história de Cuiabá.
“Ele fazia desenhos técnicos de arquitetura. Então, muitos dos primeiros prédios que foram construídos em Cuiabá, foi ele quem fez a parte mais artística. Hoje em dia a gente chama de renderização e é feita digitalmente, mas naquele período ele fazia tudo de forma manual. Ele entendia muito de colorimetria, até porque trabalhava com tinto guache”, explica Letícia Rosa, neta do artista.
Com um olho aguçado para os detalhes, uma mente criativa e com experiência em projetos geométricos utilizando cores primárias, Nilton foi incentivado por muita gente a topar o desafio.
“Foram os amigos que o incentivaram. Na época quem ganhasse o concurso recebia um prêmio e ele acabou participando".
A bonificação era de 1.000 cruzeiros. Incentivado pelo valor aquisitivo da época, Nilton iniciou seu processo de produção para a criação da bandeira.
Com a utilização da cor verde para remeter às palmeiras da cidade, o amarelo representando o ouro, o branco simbolizando a pureza do povo cuiabano e o centro geodésico da América Latina, Nilton se tornou imediatamente um dos favoritos do concurso.
A escolha da bandeira
No dia 26 de dezembro de 1972, o jornalista Pedro Rocha Jucá presidiu a comissão para a escolha do símbolo oficial de Cuiabá. Reunido com os votantes na Academia Mato-grossense de Letras, o jornalista auxiliou na escolha do desenho que até hoje representa a cidade.
Acervo pessoal
Publicação no jornal "O Estado de Mato Grosso"
Com a finalização do processo, o antigo jornal O Estado de Mato Grosso estampou em sua manchete: "Cuiabá já tem sua bandeira".
“O desenho proposto pelo candidato vencedor, Sr. Nilton Benedito de Santana, é bonito e moderno, por ele identifica-se perfeitamente a bandeira oficial de Cuiabá”, dizia trecho da matéria.
“Em uma conversa que a gente teve com o Pedro Jucá, ele falou que na época a escolha foi muito difícil porque todos os desenhos eram bons. Mas meu avô foi o ganhador. Era a bandeira que mais agradou e que mais combinou com a cidade” afirma Letícia.
O modelo do estandarte criado por Nilton Benedito de Santana foi homologado por meio do decreto n°241, de 29 de dezembro de 1972, assinado pelo prefeito José Villanova Torres.
O hasteamento oficial foi realizado no ano seguinte, no dia 8 de abril, aniversário da cidade, na sede da Prefeitura.
O evento reuniu personalidades da sociedade e política da Capital. Mas uma ausência foi sentida.
“Não fui convidado. O historiador Francisco Mendes e o Pedro Jucá me pediram desculpas e disseram que não tinham conhecimento do projeto de lei”", recorda Evaldo, que não esconde a mágoa.
“Fiquei tão magoado que fui me desligando da história e aí ela foi se reescrevendo”, acrescenta.
Já para Nilton, a criação da bandeira foi motivo de orgulho para ele e a família que veem no design o lembrete de que eles pertencem a Cuiabá tanto na identidade, quanto na história.
“Ele deixou um legado para a gente. E para nós, que somos aqui de Cuiabá, é bem legal que a pessoa que fez a bandeira da cidade seja membro de nossa família, porque isso é algo que nos representa e é uma bandeira que está em todos os lugares. Sempre que a vemos, nos recordamos dessa história”, diz Letícia.
Nilton de Santana faleceu no dia 12 de fevereiro de 2010 em Cuiabá, aos 61 anos, devido a complicações de uma trombose na perna.
Hasteada anualmente entre os prédios públicos de Cuiabá, no velório a bandeira foi estendida sobre o caixão de Nilton pelo filho Celso Rodrigo Santana.
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